Rev. Sandro Mariano
Viana
“Quando o coração se me amargou e as entranhas se me
comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua
presença. Todavia, estou sempre contigo, tu me seguras pela minha mão direita.
Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória”. Salmo 73.21-24
Vivemos em um mundo em constantes
mudanças. Países, sistemas financeiros,
governos, a cultura, as religiões, a ciência, tudo está num constante dolorido
parto de transformações.
A mídia nos arranca de dentro de nossos sossegados
e confortáveis mundos arremessando-nos para o meio do fogo e fumaça dos
conflitos sociais e globais expondo as realidades da vida.
As agonias, as incertezas, os anseios, os
conflitos expõem a cada nova geração a busca pelo sentido da existência, mesmo
em meio ao furacão de dias pós-modernos, onde os sentidos e valores foram
triturados e relativizados.
As ciências sociais, a medicina e todos os
tipos de terapias estão à disposição da humanidade com tentativas de curas para
doenças e distúrbios emocionais incompreensíveis.
As “agendas” com valores e compromissos que
são impostas sobre a vida da sociedade contemporânea levam as pessoas a se
inserirem em uma maratona onde há uma multidão correndo e você precisa
“urgentemente” entrar nessa corrida. É dessa maneira que somos inseridos na correria da “vida” e passamos agora a não
ter mais tempo. Há sempre algo a se fazer, sempre estará faltando alguma coisa.
Por trás deste fenômeno há a fuga do vazio de significados de sentidos. A agenda
deve ser preenchida o mais rápido possível, pois assim passará mais rápido e
não sobrará “tempo” para de fato refletir, pensar a própria vida.
A falta de tempo faz com que as pessoas se
alimentem mal, escolham na pressa, os sofrimentos, os anseios, e as angustias
da agenda da correria do dia a dia acaba impondo um ritmo frenético de
alienação e insensibilidade. Os antidepressivos, calmantes confirmam a morte
ainda em vida da fuga de realidades.
O expresso, no que se tornou a vida, só pára
bruscamente em ocasiões de grandes tristezas, pois nesta correria a falta de
tempo só é interrompida com fatos que nos retirem de dentro deste “vagão” dos
excessos de compromissos e do vazio de sentido e nos coloque numa dimensão
natural da vida como realmente deve ser. O grande problema é que só vemos que a
falta de tempo só nos levou para uma perda de tempo quando o tempo daqueles que
mais amávamos não estará mais disponível ao nosso lado.
Esta frenética agenda de falta de tempo é
antiga e já nascemos sob esta influência. Algumas pessoas já perceberam as
regras da existência e se submeteram a um tipo de “viver” como se estivesse num
parque de diversões ou transformaram suas vidas em um grande negócio.
Estas percepções conscientes de um vazio
existencial são preenchidas de significados mesmo que fútil e inócuo. O grande
problema está na inserção das novas gerações que adentram neste ritmo sem ao
mesmo entenderem por que precisam se submeter a estas agendas que já estão
totalmente ocupadas e sem tempo. Crescemos assim sem tempo e achamos normal
vivermos assim ocupando nosso tempo com as mais variadas formas e maneiras de
distrações, prazeres ou futilidades, pois achamos que a vida se resume a isto
mesmo. A falta de tempo é uma cruel agenda de alienações e manipulações sutis e
constantes que entorpece a mente humana.
Acordar do sono profundo desses dias de
nossas alienações e sermos colocados fora do desatino da vida contemporânea
exigirá uma disciplina de despertamentos que acontece na alma humana. Em um
mundo imerso numa grande desilusão o que precisamos é do frescor da Graça
mediante a verdadeira compreensão dos princípios do Evangelho para nos lançar
na dimensão real da vida.
Publicado no Boletim Informativo da IPParnamrim em 10/06/2012
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